terça-feira, 3 de setembro de 2013

SINTRA: O INFERNO DE D. MARIA DO CÉU...

D. Maria do Céu e marido, chegaram a Sintra em 1970, vindos do Alentejo profundo à procura de trabalho. Por cá ficaram à espera de melhores dias e de filhos.
 
Sacrificaram-se, compraram uns tantos avos de terra, suficientes para a casinha sonhada e, metendo mãos à obra, picaretas, pás e baldes com cimento, fizeram-na. A Maria do Céu ficou com uma casa pobre e uma rica hérnia para recordação.
 
Ao longo dos anos, ela e Francisco, de clandestinos passaram a habitantes, depois a eleitores, um dia foram chamados de munícipes e, mais recentemente, especialistas em linguagem autárquica, falam neles e citam-nos como “fregueses”.
 
Maria do Céu e o marido (há algum tempo falecido) não mais deixaram a freguesia de S. Pedro, incluída na matriz urbana de Sintra e orgulho que diziam no Alentejo.
 
Viver perto e tão longe
 
Há pouco mais de 10 anos, a Maria do Céu e vizinhos tinham transporte directo até à porta da sua Junta em S. Pedro, pagando um só bilhete na carreira 467.
 
Autarcas de arribação – esvoaçantes na dedicação que não definiram a quem – pouco preocupados porque se deslocam em viaturas que nós mantemos, autorizaram o desvio da carreira que passava à porta da Junta, obrigando os utentes a transbordos.
 
Hoje, a Maria do Céu, viúva com baixa pensão, pagante de IMI e taxas de “passagem” para tudo, para chegar junto da sede da sua Freguesia foi e voltou a pé num trajecto de 4 quilómetros para cada lado, com 32º de temperatura e sol aberto.

Como a transportadora não tem tarifa para idosos nem aplica a bilhética por tempo de viagem, os transbordos obrigam a novos bilhetes, custando uma só viagem 3 euros e 30 cêntimos. Na Ida e Volta gastam-se 6 euros e 60…inacreditável…

Estes custos, superiores ao uso de viatura particular ou ao recurso a táxi, têm efeito perverso, reflectindo-se no abandono de transportes públicos por parte dos utentes.
 
Neste quadro, terem prometido melhores acessibilidades sem acabar com os vícios que têm sido admitidos, não passou de torpe falácia.

Nesta paragem D: Maria do Céu descansou do inferno que são as suas deslocações
 
Em Sintra, um modelo tão parecido com o brasileiro
 
Os últimos acontecimentos no Brasil, iniciados com o preço dos transportes, justificariam que autarcas e políticos repensassem no problema que têm criado com a sua indiferença pelo que se passa por cá no que concerne a transportes públicos.
 
Uma pérola informativa, constante do site da SCOTTURB, é elucidativa: "No dia 17 de Junho de 2013 entram em vigor os horários de inverno não escolares das carreiras (...). Desta forma, eliminaram carreiras que serviam outros utentes.
 
Em boa verdade, sabe-se lá com que cobertura, a transportadora rodoviária que serve Sintra faz o que a deixam fazer. Até "estende" a Sintra o feriado de 13 de Junho, só aplicável em Cascais, causando inegáveis transtornos aos utentes sintrenses.
 
Alterações frequentes de carreiras, quase sempre implicando transbordos, redundam numa confusa oferta em que o mealheiro dos módulos está sempre de ranhura aberta e com apetite para comer umas unidades.
 
São feitas e eliminadas carreiras, chegam as férias e limitam as circulações, como se os utentes não estudantes não pagassem passes e não tivessem direito a aceder a sua casas ou postos de trabalho e à sua vida na comunidade.
 
E a Câmara Municipal tolera isto tudo, quase sem valer a pena fazer reclamações.
 
D. Maria do Céu, descansou as pernas na paragem do Ramalhão, pouco passava do meio-dia, viu descerem logotipos azúis e amarelos, em serviço pela certa, sem que olhassem para ela - munícipe pagante - que viria a retomar o caminho a pé.
 
Sozinha, passou pelos bombeiros, desceu até ao Bairro da Colónia Penal, Rua Dr. António Macieira, Rua da Colónia, mais um pouco e estava em casa.

Sentou-se a meditar: há 12 anos tinha votado neles, que lhe prometeram melhores transportes públicos e comodidades para idosos.

Mentiram-lhe prometendo "Dedicação". A indignação sentou-se com ela.





 

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