sexta-feira, 28 de junho de 2013

SINTRA TEM RESTOLHOS DE VERÃO...

Há dias, já neste Verão, saindo de manhã cedo como em todos os dias, pouco depois da iluminação pública se apagar, fui surpreendido pelo cheiro único, quente e seco, do restolho das searas de trigo, que me envolveu nos sentimentos e memórias.
 
Fechei os olhos e, em poucos minutos, recordei aquele tempo da grande seara de trigo onde de madrugada chegavam os ceifeiros, com gadanhas afiadas, e ao lado uns dos outros, muitas vezes cantando, faziam o corte.
 
A debulhadora - naquele tempo era fixa - retirava os grãos. A enfardadeira, ligada ao tractor, fazia gigantescos paralelepípedos de palha atada por arames.
 
Um ou dois dias depois, enquanto o restolho desenvolvia aquele cheiro tão característico, apareciam os pardais em bandos tão grandes que pareciam nuvens.
 
Era a altura de me munir dos apetrechos de caça e gozar as férias..
 
Há dez anos, um irmão que vive no estrangeiro (único irmão, melhor dizendo...) lembrou-me essa época com a oferta de uma fisga, já sofisticada e pouco parecida com as que eu fazia. Valeu bem a pena porque me fez recuar no tempo...
 
 
Nas minhas fisgas não era qualquer garfo que servia. Os elásticos eram especiais e, garanto, as munições eram sempre as mais redondas pedrinhas do terreno.
 
A fisga andava no bolso até à escola, mas no longínquo regresso a actividade era permanente. Asseguro que nunca comi um pássaro. Eram para a minha mãe.
 
Em certa altura, tive uma crise de elásticos e, expedito, fui a umas botas que a minha mãe me tinha comprado por causa da lama dos caminhos e zás...fiz delas elásticos. A sova veio depois, quando as chuvas chegaram e das botas só havia solas...
 
As botas não eram forradas a pano como agora, o que facilitava o corte
 
Com o cheiro do restolho no meu cérebro, recordei as técnicas de colocar bebedouros na meio do restolho, a que os pardais recorriam. Era lá que depois colocava redes.
 
Tinha um simpático mocho que era um precioso ajudante na minha actividade.
 
Com a seiva leitosa dos cardos rasteiros e pez fazia visco. Depois arranjava um pequeno ramo de oliveira e colocava-lhe umas varinhas com visco, enquanto o mocho - preso obviamente - ficava por perto, num poleiro.
 
Logo um bando de pardais se aproximava para atacar o mocho, pousando nas varinhas com visco onde ficavam agarrados...
 
Depois, num espaço com sombra rodeado de fardos de palha, fazia a sesta, numa época em que não havia alergias ao feno nem ao sol e em que éramos felizes.
 
O cheiro do restolho voltou nestes dias e, com ele, as saudades de tanta coisa...
 
 
 
 

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