sábado, 17 de março de 2012

LISBOA E OUTROS TEMPOS COM HISTÓRIA


Há uns dias, resolvi voltar à outra Lisboa, à que fez parte da vida de uma criança com 14 anos e nela começou a trabalhar. Quis recordar um pouco a história da minha vida.

Naquele tempo, descíamos a escadaria da estação do Rossio de quatro em quatro degraus, um perigoso feito de que só mais tarde nos apercebemos.

Como as carruagens do comboio tinham varandas, outra habilidade era saltarmos entre elas, ficando todos sujos quando a máquina fazia descargas dentro do túnel.

Conheci Lisboa tão bem como as minhas mãos. Muitas vezes agarrado a um livro (guardava-o no bolso das calças), caminhava e desviava-me de árvores e candeeiros.

Calcorreei Lisboa em todas as direcções. Baixa, Lumiar, Carnide, Benfica, Braço de Prata, Algés. A Feira Popular era onde agora é a Gulbenkian e na Praça da Figueira (ao estilo da Ribeira) as carroças descarregavam os produtos que vinham dos saloios.

A água de Caneças era fornecida em bilhas de barro devidamente seladas.

Para reviver um pouco esse tempo, meti-me no comboio e abalei até Lisboa.

Agora já usei a escada rolante, encaminhando-me para a Casa Chineza, à entrada da Rua do Ouro, onde a D. Arminda, com simpatia, me pergunta sempre: - “quantos pastéis de bacalhau quer hoje?”. Recomendo-os, porque são uma delícia.

Desci a Rua do Ouro, à direita na Rua da Assunção até à do Crucifixo. No recanto que unia os Armazéns do Chiado com o Grandella, a enorme pedra que encimava a entrada da “Vacaria Áurea”, deve ter sido surripiada depois do incêndio. Na esquina em frente, devoluta, era a loja dos Morgados onde se comia a melhor sandes de leitão.

Subi ao Chiado. A Pastelaria Marques continua fechada, mas mesmo assim trouxe-me recordações que mexeram com os sentimentos.

Poucos metros abaixo, a histórica Leitaria Garrett está tão abandonada que me deu a visão desoladora que abaixo reproduzo.


Quem é responsável por este desprezo que envergonha a magnífica cidade de Lisboa?

Desci, onde foi uma das mais famosas perfumarias, agora comercializa-se café encapsulado. Ao menos a bela fachada está preservada.

Uma bela loja na Rua do Carmo

Desolado, decidi regressar, mas saltou-me o desejo de rever um dos mais belos e antigos fontanários de Lisboa. Encontrei-o vedado com vidros e gradeamento, pelo que, quem passa no local, qusse não se apercebe da sua existência. Tive de pedir autorização para lá entrar e ver um património público. Hoje não digo onde é…

Sabe onde é este fontanário?

De seguida, deparei-me com algo que envergonha qualquer cidade do mundo. A todos nós por sermos responsáveis colectivamente. Não fui capaz de seguir o meu roteiro.

Regressei a Sintra. Um destes dias, farei outros percursos.



2 comentários:

Laura Garcez disse...

Sei sim senhor! É o Poço do Borratém, na rua com o mesmo nome. Na minha infância e apesar de a água não mais ser potável, o poço era acessível pois ficava na reentrância de um edifício e aberto para o passeio. Hoje está no interior de um hotel.

Fernando Castelo disse...

Estimada Laura,
Muito grato pelo seu comentário.
Na passada quinta-feira (20.12.2012) passei por lá e fiquei muito contente.
Com efeito, a Junta de Freguesia tinha o gradeamento aberto e estava lá uma Senhora Funcionária dentro a receber os visitantes. Foi bonito e sugeri que, ao mesmo tempo, a Junta distribuísse um folheto (simples) com a história do fontanário.
Muito bom dia.