segunda-feira, 2 de maio de 2011

VÍRUS E JOGO DO BERLINDE

A propósito do "vírus" que por aqui apareceu - suavemente referido em 28 de Abril -  recordarei aquele fabuloso jogo do berlinde, a que a minha geração tanto se dedicou.

Os jovens de hoje, com programas de toda a espécie guardados no  notebook e jogos variadíssimos, até com comando por gestos, desconhecem como antigamente se ocupava o tempo fora dos horários escolares.

Havia os jogos do alho, do pião, o salto ao eixo. As bolas de trapo, que nos levavam a "furtar" umas meias às nossas mães e justificavam uns açoites quando ela descobria, permitiam grandes jogos de futebol. Tinhamos as caricas que se enchiam com lastro para mais pesarem e onde muitos cromos de futebolistas se colavam para formar equipas. Tinhamos ainda o arco e a gancheta. Mas o jogo do berlinde era uma das principais diversões dos jovens.

Bons tempos. 

Nos intervalos das aulas, à beira de uma rua ou num qualquer espaço com terra, o calcanhar da bota (naquela época os ténis de borracha eram um luxo) rodava e fazia três covas com alguma distância entre elas. O "estádio" estava pronto.

Se existisse parceiro o jogo começava. À falta dele jogava-se sozinho, a modos de treino.

Mas nos berlindes (chamávamos bilas) existia uma estrutura: A mais elevada hierarquia eram o "mundo" e o "contra-mundo", seguindo-se o "abafador", tinhamos depois o "papa" mais a "leiteira" que não podia ser abafada e, finalmente, os berlindes que eram assim como que soldados rasos. 

Tinham de ser medidos palmos, havia peritos no acerto (às vezes os berlindes até se partiam) e até se avisava o adversário que era a "matar".

Jogador que se orgulhasse tinha de ter alguns berlindes tirados da garrafa dos "pirolitos", uma bebida muito agradável parecida com a gasosa. Uma das nossas grandes curiosidades era saber como tinha entrado o berlinde para dentro da garrafa.

Começado o jogo, havia um empenho total por parte dos jogadores e dos assistentes.

No meio da furiosa contenção, nem sempre os jogadores se acautelavam e, de repente, quase traiçoeiramente, algum saltava sobre o jogo e apanhava os berlindes da competição, mostrando nessa altura um "contra-mundo" ou "abafador" que justificavam entrar na posse dos bilas que eram dos outros.

Gerava-se burburinho mas o certo é que os berlindes eram abafados.

Hoje em dia o sistema de abafar é mais científico. Não há bilas mas há outros meios mais sofisticados e mais impróprios.

É a vida, ou antes, são as ambições.

Um abraço,

Fernando Castelo

1 comentário:

Anónimo disse...

Só não sou do tempo de jogar à bola com as meias da mãe :)

Quanto ao "sistema de abafar" faz lembrar o refrão da música Vampiros - Zeca Afonso, que diz:

"Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada"