terça-feira, 3 de maio de 2011

FRIGIDEIRAS, TACHOS E PANELAS

Recomendo aos meus visitantes a leitura do artigo de Paulo Pena, sobre a crise (e saída dela) da Islândia, publicado na edição de 28 de Abril da Revista Visão.

Nela se relata a forma como os islandeses tomaram nas suas mãos o destino do país.

A indignação popular obrigou a que pegassem em frigideiras e batessem tachos e panelas para protestar contra a degradação das condições de vida.

A incapacidade dos políticos ou a promiscuidade entre eles e a alta finança, levou os movimentos populares à descoberta de não-políticos dispostos a resolver a grave crise que os afectou. Dessa forma, surgiu um novo partido - o "Melhor Partido" - que viria a ganhar as eleições para a capital com 34% dos votos.

No mesmo artigo, pode ler-se que "O Supremo Tribunal islandês vai reunir-se em breve para julgar o ex-primeiro-ministro Geir Haarde, acusado de incompetência e má gestão".

A exigência de uma verdadeira moral pública levou a que o povo tenha eleito 25 pessoas "comuns" para reescrever uma nova Constituição.

E nós por cá?

Quando são cada vez maiores as preocupações sobre o que nos reserva o futuro, parece que muitos decisores políticos vivem noutro planeta, aparentemente pouco sensíveis à exigível boa gestão dos dinheiros públicos.

A crise que se atravessa é, ainda e apenas, dos normais cidadãos, dos administrados, parecendo que os dirigentes, os autarcas, ainda se sentem com poderes e autoridade para decidirem como muito bem lhes apetece e interessa.

Há dias, este blogue referia a ligeireza com que a maioria absoluta que governa Sintra decidiu aplicar 843.901,51 euros que (providencialmente) a EDP devolveu em Março deste ano, depois de os ter cobrado a mais entre 2007 e 2010, sem que na CMS dessem por isso. 

Ora, com tantas e faladas dificuldades quando é preciso acorrer aos eixos, patamares e vertentes (é assim que falam...) social e cultural, logo foram destinados 300.000 euros para "Projectos na Área Desportiva". Com Projectos e beneficiários à altura desconhecidos.

Estranhamente, surgem agora uns flashes sobre regras e aplicação de contratos programa, quase à la carte, misturando diversas áreas mas citando expressamente instituições desportivas de zonas mais povoadas. Não faltou a mensagem nitidamente subliminar de "foi comigo".

Em lugar da devida análise territorial e inventariação das carências, para a resolução directa dos problemas e anseios das populações (às vezes apenas querem um jardim ou uma pequena biblioteca) deixa-se no ar o convite à corrida para apresentação de projectos.

Se tivermos em conta as alusões, facilmente se deduz que estamos perante uma forma pouco equilibrada de desenvolvimento, mantendo afastados os núcleos menos populacionais, perfeitamente conhecidos dos autarcas, mas não credores de tanto entusiasmo.

O exemplo islandês de mobilização contra as situações anormais, exigindo transparência e soluções justas, deverá ser tido em conta pelos nossos políticos.

Quando deixarmos de ser tão tolerantes e tomarmos a consciência dura de quanto parcial e negativa tem sido a gestão feita pelos nossos políticos, muito da nossa sociedade irá mudar.

Antes, também com tachos e panelas a bater, o ruído fará com que nos oiçam.

Vamos ver como será em Sintra.

Fernando Castelo

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